Nenhum
dos ponteiros
“Ainda
que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, sou como
um bronze que soa, ou como um címbalo que tine. E ainda que eu tivesse o dom da
profecia e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e tivesse toda a fé,
até ao ponto de transportar montanhas, se não tivesse amor, não seria nada. E,
ainda que distribuísse todos os meus bens para sustento dos pobres, e
entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tivesse amor, nada me
aproveitaria.”
(Carta
de S. Paulo aos Coríntios)
Ele
ainda a amava. Nas sextas-feiras e algumas vezes nas segundas, esquecia não ter
encontro algum marcado e sentava-se no mesmo banco de praça de tempos atrás.
Sem consultar o relógio: Sua esperança era a de todas as horas. Indiferente ao
insucesso da espera, retirava o bloco: folhas antigas, novas, para apontar as
dores freqüentes.
Folheando
o caderno velho encontrava a foto dela e como se alguma vez em sua vida a
houvesse esquecido, sua lembrança o assaltava com ímpeto renovado. Os pássaros
já não eram os das horas felizes, das mãos dadas, naquele banco em outros dias.
O caderno não mostrava poemas de ardor, de paixão, de êxtase. Os mais novos: Poemas
de quedas nos abismos, de dores que, de tão recorrentes, nada mais faziam, nem
ao corpo nem à alma.
Julio Urrutiaga Almada In Caderno de Ontem - Ed. do Autor 2016
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