
“Ao ler, eu procuro um respiradouro…Se meu olhar escava entre as palavras, é para tentar discernir o que se esboça a distância, nos espaços que se estendem para além da palavra fim” (Calvino, Ítalo. 1999. Se um viajante numa noite de inverno . Trad. N. Moulin. São Paulo: Companhia das Letras).
O livro Poemas Mal_Ditos, do poeta Julio Almada proporciona efeitos múltiplos. A cada nova poesia, a dualidade dos sentidos aflora, se avoluma e transborda em seus infinitos significados.
A priori, o leitor mais precipitado, ávido por leituras superficiais, pode achar que o livro é construído em torno de clichês cansados. Mas, não se enganem, é ao contrário, construído com fervor, onde a intertextualidade com seus mestres, encena o jogo das palavras da liberdade e dos signos.
Em cada verso há um pouco da medula óssea do autor. Suas palavras compõem, decompõem e recompõem sua voz lírica na árdua busca do fazer poético e de si mesmo.
A angústia, a dramaticidade e o ar confessional característico de sua poesia, instigam o leitor a uma profunda e prazerosa inquietude acerca do sentido Vida e Morte na Poesia, sobre seu papel na produção social, enfim sobre a solidão do Poeta.
Poemas Mal_Ditos, possibilita várias leituras, reflexões e discussões rumo a novas descobertas, exatamente como prevê a epígrafe de Ítalo Calvino. Trata enfim da necessidade premente de viver Poesia. O mais? Que descubra o leitor!
Andréa Motta é Poeta, escritora, advogada, membro efetivo do Centro de Letras do Paraná e associada a Academia Paranaense de Poesia.
Publicações digitais: Fonte de meus Silêncios mais Profundos, Natureza Íntima e Águas do Inconsciente.
Antologias : Antologia Internacional Terra Latina (Projeto Cultural Abrali, Ed.2005), uniVERSOS, Antologia Poética (Escritores e Poetas – Ed.2005), Pó&Teias (Antologia de Poemas, crônicas e Contos, Ed.2006), Poesia do Brasil, Vol.3 (Proyecto Cultural Sur/Brasil, 2006) e Poesia do Brasil, Vol.5 (Proyecto Cultural Sur/Brasil, 2007) .
poema do livro:
Um poeta em seu reino dos céus
Tem sempre esse inferno particular:
Se cortando na sutileza dos véus
Olha no olho do que há para revelar
Vê claro o que claramente oculto
É o mais escondido dos tesouros.
logo o acusam de estar em surto
ao dançar com a alma dos touros.
Chega de promessas do paraíso
repleto de prazeres artificiais.
Escrevo uma dor ácida e aviso:
sou o menos morto dos mortais!
Vestido com a ousadia nua:
Como flor de lótus nos funerais.
Quero a tinta que a beleza sua
E deitar vivo, aonde a vida jaz.
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