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Heracles


















Ninguém sabe
Degustar
um segredo.

Ele tem a cara
De um Câncer.

Ele tem o cheiro
De um medo.

Eu verto silêncios
E aromas de baunilha
Nesses dias entristecidos.

Eu perambulo
Pelos endereços
Inábeis
Dos tempos felizes.

Eu sofro
De amores voláteis
Desandando
A maionese dos magos.

Flor de um asfalto retrátil
Devorador de pernas
dóceis
E sonhos contidos.

Esvoaço a vida
Se esvoaçada
Deixa-se.

Falo a verve
Descontrolada
Dos abismos.

Amo a febre
Dos meus sentidos:
Voz embargada.

Desavisado sorrio
Os dias me dilaceram
Na sorte que anunciam.

Dobro a esquina
Cruzo o rio
Sangro desaparecido.

As mãos prenunciadas
São a febre
Das horas enraivecidas.

O olho inerte
É o remorso
Do tempo vencido.

A outra margem
O rosto da correnteza
cortada.

Palidez é a cor
mais selvagem
à mim permitida.

Morrer centenas
De vezes e não
Morrer sequer um dia:

Trançado de vozes
Calando
As pedras velozes.


Julio Almada do Livro Em um mapa sem cachorros

Para Comprar o Livro 
Em um mapa sem cachorros mande um e-mail:

juliourrutiaga@gmail.com

Comments

Adriano Viaro said…
"Eu sofro
De amores voláteis
Desandando
A maionese dos magos".
como definir isso?
magnífico!
poético por assim dizer

abraço meu amigo
sueli aduan said…
...Dobro a esquina
Cruzo o rio
Sangro desaparecido.

Poema lindíssimo,(todo ele,mas detive-me nestes versos em particular, bateu forte me mim.

PARABÉNS.
Lívia Petry said…
Julio, é um dos poemas mais complexos e mais fortes que já li. Me faz lembrar o poeta surrealista português Mario Cesaryni e também outro poeta português Fernando Pessoa. És realmente um grande talento e como diria outro poeta, " aantena da raça" ou melhor: "a voz da raça". Tua voz é áspera e marcante, cheia de caminhos e surpresas para os desavisados. Fiquei muito feliz em te conhecer! E sei que ainda vou ouvir falar em ti, como hoje fala-se em Drummond. E isso não é um elogio, é uma constatação. Esperemos passar o tempo, então. Um abraço da tua admiradora, Lívia Petry
Poeta, escritora e mestranda em Literatura Portuguesa pela UFRGS.
Janice Diniz said…
Poema bonito e inteligente. Faz pensar sem a aridez do racionalismo. a gente lê e pensa fácil, morno.

Abraço.

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