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Franco-atirador


Dor descascada é conto inútil:
Desandou meu olho nu, há três dias.
Minhas mãos tremulam sua falta de ossos.
Ana ou Ela escapou pela fenda da sombra.

Nem todo que fala nomeia.
Nem todo que mente esquece.

O oculto é um fel de segundos
E a solidão me anoitece.
Desdizer os fez imundos
Verto água nessas falhas.

Dedo certeiro: minha língua ferina.
E o dia a dia : um açoite
De tempo: desfeito faz tempo.

Quem é o alvo do meu segredo?
Quem é a flama de mim?
Morro de novo e é cedo
Volto de novo :não é o fim.


Teu destino um assoalho brilhoso
Um espelho de vozes fingidas.
E o meu: abismo assombroso,
De raízes e espadas antigas.

Nesses tempos a dor é
Nossa única trincheira
O olho no olho, a fé
Um disparo de vida inteira.

Julio Almada



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