
Tentando Explicar
“A vida é uma pedra de amolar: desgasta-nos ou afia-nos, conforme o metal de que somos feitos.”
(George Bernard Shaw)
Caderno de ontem, não é um diário, aliás, dos dias apaguei seu costume de escolher datas. As lembranças, sólidas maneiras de eu saber, que não surgi imediatamente, brotam de forma avassaladora e não as dato.
As datas são fatos de ontem. Muitas vezes, senti a tentação, após algumas linhas, em particular, as ritmadas e com rimas: as poéticas confissões emersas dos afogamentos e devaneios interiores: poemas, esses sempre pretendi datar.
Pretensão! Ato quase nenhum. Seguem sem sinal de nascimento. Pertencem a maioria – confesso ter imposto a poucos o destino de nascer em um determinado momento – ao tempo contínuo, ao surgir agora como eu nunca haver surgido, assim gosto que me ocorram os escritos.
Mas bem sei e posso contar: laborioso e cheio de ruídos e fagulhas, pode ser o aparecimento de cada poema. Caderno de ontem.
Caderno do Tempo no papel do silêncio.
O observador é um inquietado. Não há admiração, em percebermos, o quanto pode ser inquietante seu relato. Só preciso adiantar algo: quase não sei descrever.
Um dia aprendo a fazer descrições. Nunca soube. Tenho o hábito de sangrar os pensamentos e opô-los às falas ou na tentativa de expor sua pretensa veracidade: reuni - los. Gostaria de descrever. Narrar dissecando como a lente de uma câmera.
Podemos combinar duas coisas, os relatos encontrados a seguir não estão datados, já expliquei. Outra coisa se saberá do que eu vi, quase cor nenhuma ou forma, com suas medidas pretensiosas de serem vistas quando contadas.
Antes terão o impacto e o impulso de fechar os olhos ou virar o rosto e lembrar o que me causou viver aqueles fatos.
E antes de acrescentar essas pequenas histórias já anunciadas, relatarei um devaneio ou reflexão sobre o amor, ou o que vi sobre, ou o que me disseram a respeito.
Para alguns amar é entreter o tempo. Fazer que horas tortuosas, passem de outra forma, inusitadas, não freqüentes.
E assim, quando lhes acontecer o amor, para causar espanto ao tédio, descobre-se outra tediosa exibição da vida e propostos a não repetir os infortúnios e insatisfeitos de satisfação, descartam entre este e aquele. Buscam outro amor.
Julio Almada, Do livro Caderno de Ontem(contos e mini contos, em primeira mão)
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