
lanterneiro
é verdade,
a vida é um troço de doer.
dói, meu caro,
dói, sim senhor, dói
como um guarda-chuva aberto
dentro do estômago,
como uma ave no éter do petróleo,
como um galo no ártico.
dói como doem as pevides
dentro da fruta,
como dói o corpo
dentro do quarto,
como deus na eternidade
das coisas que nunca existiram.
atino em eufórica
sensação de escombro:
estar vivo é mais importante
do que ser feliz!
e não obstante sermos –
entre a dor da morte
e a dor
do parto –
este buquês de dores,
jamais aceitaremos
o éter na veia,
o vaso de águas enfermiças,
as roças de lápides e relógios,
o repouso de quem cortou os pulsos.
nossas vísceras são focos de incêndio.
e se algum lugar
de nossa carne transparente
erguermos uma nave e um rito,
não o faremos para o sofrimento,
senão para que, antes de nos
espojarmos nos degraus,
brindemos
a nossa próxima
alegria
Rodrigo Madeira do Livro Sol sem Pálpebras
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