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Showing posts from May, 2007
Poema do Esconde-Esconde Para Roberto Portugal Alves(In Memorian) 1 Ensina-me a calar. Ensina-me na janela do dizer O que se vê E faz cessar O que se fala. Ensina-me a esquecer. Ensina-me A desfazer A sina de não ser O que eu sou. 2 A sepultura que te mostra. A sepultura que te esconde. A vazia mesa posta. A loucura da minha fronte. A vida e sua morte inesperada. A morte e sua vida desesperada. 3 O recinto em que me inventas É o intento de conter-me Nesta flâmula de tempo Em teus lábios cinzentos. 4 Lua transposta: Mar refletido, semente de pedras, Lagos infindos, verbos inertes, pó na estrada. Lua transposta e do medo, as garras. O medo transposto: metamórfico. 5 Separo os grãos do prever do meu destino Separo o fraco café do leite Me separam, a água e o azeite Me invento no mundo, clandestino. 6 Poesia urbana: veloz, dissipada, bípede, infame, Imprópria, inata, ciliar, banal, morrendo de Muitas mortes. 7 A página em branco contém: O desejo franco de possuir datas. Não um número e uma...
Cicuta para dois No fim da maçã: a semente. Dentro de nós um pouco, De termos ouvido sempre: Vociferar um amor louco. No escuro do quarto: a neblina Da memória: puxa os lençóis. Não passem frio: menino e menina. Retidos na retina ainda: Nós. A corda do destino: branca, Nossos pés juntos: cegou. Hoje nos falta o que restou: O baile ensurdecedor da lembrança. O aroma quente do chamado amor. E o abraço: que a solidão estanca. Julio Almada, Poemas Mal_Ditos
Poemas Mal_Ditos Um poeta em seu reino dos céus Tem sempre esse inferno particular: Se cortando na sutileza dos véus Olha nos olhos do que há para revelar Vê claro o que claramente oculto É o mais escondido dos tesouros. logo o acusam de estar em surto ao dançar com a alma dos touros. Chega de promessas do paraíso repleto de prazeres artificiais. Escrevo uma dor ácida e aviso: sou o menos morto dos mortais! Vestido com a ousadia nua: Como flor de lótus nos funerais. Quero a tinta que a beleza sua E deitar vivo, aonde a vida jaz. Julio Almada, Do Livro Poemas Mal_Ditos
Amor a dentadas Contigo já nem sei mais começar. Atropelados todos os meios Desisti de ser inteiro. Me mordo em sonho quase sempre: Destroncando o curso na montanha Do que era rio e hoje é veio. Só bebo dessa sede que em mim Com fogo congelas: Por ter os lábios e a língua feitos Pela metade e perdidos estarem Na polpa de tua pele como sementes. É dia de arrancar unhas curtas E arrastar o barulho das luas: Para difamar o amor que me engana E mostrar que corte de pedra não é Dor. É só uma carícia de quem carece De outras suavidades. Julio Almada, Do Livro Poemas Mal_Ditos
Parte arrancada O ódio bebo de dentro pra fora. O medo bebo de fora pra dentro. De noite não é o olho que chora: É o estouro da represa do tempo. meus monstros ainda os vejo; Eles ainda me apagam sempre; Mas agora só olho o presente, me achando de novo no espelho. nunca deixei de ser muitos: aqueles muitos que eu não era: os espanco onde antes houvera: morte sem vida sem primavera: delirios e pesadelos abruptos. E renasço da flor de meus lutos. Julio Almada, Do livro poemas Mal_Ditos
Alegria Um dia A casa de vento Na ventania desfeita: Desnudou O olho lacrimejante Com suas dores retidas. Julio Almada
Testemunha O Mar é o manto Do Choro Lento Do Leve pranto Da dor do tempo. Julio Almada
Domingo à Tarde Por onde as escadas sobem? Por onde sem nome Vou? Profundas as não verdades, a falta que me restou. Julio Almada